quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Meios-direitos

Foi aprovada pelo Senado, na última terça-feira, a medida que prevê a fixação de cotas para estudantes em eventos culturais e esportivos. A decisão institui que somente será permitida a meia entrada para 40% dos ingressos disponíveis. Recriminada pela Une e aplaudida por artistas, com certeza a polêmica medida ainda será alvo de muito debate.

Os artistas compareceram ao Senado para pressionar os parlamentares. O argumento de defesa à fixação das cotas é de que assim seria possível a redução do preço dos ingressos e estimularia a produção cultural do país. Além disso, foi constatada que muitas das carteirinhas de estudante usadas para garantir o preço diferenciado são falsas. Será que adianta limitar o número de ingressos de meia-entrada e continuar permitindo a falsificação de carteirinhas?

O que se verifica neste caso é a ânsia que o governo tem por soluções rápidas, porem efêmeras. No caso da fixação de cotas, é claro que a fabricação de carteirinhas falsas continuará sem uma fiscalização rigorosa. Além disso, muitas pessoas que tem realmente o direito à meia-entrada podem chegar tarde demais e perder a vez para uma falsificação bem-sucedida. E quanto as bilheterias? Possivelmente irão se aproveitar das cotas para alegar o fim da meia-entrada. Não é interessante para os organizadores do espetáculo vender os ingressos mais baratos. No fim, conseguir a o bilhete diferenciado a que se tem direito será raridade.

E quanto a diminuição dos preços? Com certeza as pessoas irão aproveitar o momento para lucrar mais. E o público, que antes era estimulado a prestigiar a cultura ficará desmotivado. O preço aumenta e as pessoas correm das salas de cinema, dos teatros(que mesmo com meia-entrada têm preços salgados!), dos jogos.

Há um abuso, sim, dos ingressos mais baratos. Mas não adianta fazer uma transposição de problemas. A expressão tapar o sol com a peneira se aplica muito bem neste momento. Estão falsificando carteirinhas? Legal! Vamos colocar cotas para meia-entrada! E depois? Quando as salas de teatro e cinema estiverem vazias vão diminuir radicalmente o preço? E acabar voltando ao mesmo ponto, prejudicando artistas e produtores? Não dá pra entender essa estranha lógica de acabar com um empecilho e gerar outro. É necessário medidas reais, que pressionem os falsificadores e estimulem bilheterias a exigir e a fiscalizar as carteirinhas. Aqueles que trabalham com cultura no pais precisam de mais incentivo, de mais verba. E os portadores de carteirinhas verdadeiras precisam ter seus direitos respeitados!Somente criando soluções que combatam o problema pela base, chegaremos a um patamar elevado de respeito a artistas, produtores e espectadores.

Por Márcia Costanti

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