sábado, 29 de novembro de 2008

Homem de preto ou TV em cores: quem manda mais?


por Pedro Brasil Silva

Desde domingo, os noticiários esportivos têm um único foco: o pênalti cometido – ou não – por Leo Fortunato do Cruzeiro em Diego Tardelli do Flamengo aos 48 minutos do segundo tempo, não marcado pelo árbitro Carlos Eugênio Simon. O lance foi extremamente duvidoso até para as câmeras da televisão. Para quem viu o jogo pela TV aberta, o toque do zagueiro no atacante é nítido, porém uma câmera exclusiva da ESPN mostra que o atacante pode ter simulado a infração. Todavia, o mais importante dessa história não está no erro do juiz. Aliás, erros de arbitragem sempre estiveram presentes na história do futebol (quem não se lembra da “Mão de Deus” de Maradona contra a Inglaterra que classificou a seleção argentina à semifinal da Copa de 86, no México). O problema está na proporção que o possível equívoco chegou. Passou-se a comentar e analisar apenas a desempenho de Simon ao invés de exaltar a grande atuação do time celeste e a inoperância do sistema defensivo rubro-negro naquele que, para muitos, foi o melhor jogo do campeonato. E todo esse barulho foi criado por uma falta que mesmo com o auxílio dos replays, variados ângulos de câmeras e congelamento de imagens não atingiu um consenso entre os jornalistas esportivos.

Grande parte da mídia esportiva nacional apoiou o Flamengo e execrou o arbitro. Muitas acusações à índole de Simon foram levantadas e o juiz, que já apitou duas Copas do Mundo teve sua credibilidade posta em xeque. O vice-presidente de futebol do time carioca, Kléber Leite chegou a afirmar que Simon “deveria aprender a ser homem”. Isto não é papel esperado de um time com uma imensa legião de torcedores como é o Flamengo. Cabia ao rubro-negro acatar a derrota, juntar os cacos, levantar a cabeça e lutar - afinal de contas, ainda restam as duas últimas rodadas do campeonato e a diferença do time para o quarto colocado da competição é de apenas um ponto.

A revolta da equipe carioca com a atuação do juiz foi tão grande que a diretoria flamenguista organizou um dossiê com alguns erros de Simon e o entregou à FIFA. O intuito é de eliminar o juiz da equipe de arbitragem para a próxima Copa do Mundo. E o árbitro, que já foi apontado diversas vezes como o melhor do país, quase perdeu a possibilidade de ir à África do Sul representando o Brasil no quadro de juízes (só não saiu do efetivo pelo fato de ser o único brasileiro indicado).

É importante destacarmos que no jogo de domingo Simon não marcou uma penalidade a favor do time celeste no primeiro tempo, ou seja, errou (ou possivelmente errou) contra as duas equipes, não estava mal intencionado ou tendencioso a favorecer um ou outro time. Além disso, era claro que o árbitro não estava em um bom dia, inverteu faltas, ignorou outras e estava longe dos lances. Acontece, inclusive com os melhores. Afinal de contas: errar é humano (e os juizes são “muito humanos” até por conta da responsabilidade que é investida neles). A campanha “Anti-Simon”, criada mídia e pela diretoria do Flamengo foi e é bastante covarde. Ele foi julgado e condenado por um possível equívoco que nem os recursos televisivos deram uma resposta definitiva. Qual o critério deste julgamento? Sendo que o árbitro no campo de jogo não tem outro recurso visual além dos próprios olhos e a ajuda de seus auxiliares? Acredito que o julgamento da arbitragem através de imagens congeladas deixa os homens do apito em uma posição inglória e desprestigia seu trabalho, já que eles não têm a possibilidade de recorrer a tais recursos. Pode-se resolver esse problema de duas formas: viabilizar as imagens gravadas aos juízes durante a partida, assim como no basquete, parando o jogo a cada lance duvidoso (hipótese improvável), ou respeitar o apito do juiz, confiar na sua honestidade e perceber que, a autoridade máxima do jogo, é o homem de preto e não a TV em cores.

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