sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Avaliação do ensino médio?

No último dia 20, o MEC liberou a consulta das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008. A média geral das provas caiu em torno de 6,3%. Professores e alunos disseram que a prova estava mais cansativa do que o usual. Embora apresentasse o mesmo número de páginas da prova anterior, as questões continham mais gráficos, tabelas, charges e figuras, que exigiam maior capacidade interpretativa do participante.
O susto foi grande quando a notícia era de que o nível de dificuldade da prova de 2007 havia caído, e a média tinha aumentado. Mas a tendência é que as provas se tornem cada vez mais complexas, visto a utilização das notas dos candidatos como bônus em mais de 500 instituições de ensino superior. Além disso, participar do Enem é requisito para conquistar uma bolsa de estudos no Programa Universidade para Todos (ProUni).

Por um lado, esses benefícios deram grandes chances ao candidato de disputar uma vaga no ensino superior, mas por outro lado, também fizeram crescer no país os cursos preparatórios para a prova do Enem. O objetivo original dessa prova, o de avaliar o ensino médio brasileiro, está perdendo sua credibilidade. O interesse em ingressar no ensino superior suplantou esse objetivo e está fraudando a verdadeira cara do nosso ensino médio, à medida que os cursinhos preparam melhor o candidato.

O Enem, que não chamava tanto a atenção dos alunos, tornou-se o foco principal daqueles que desejam obter qualquer acréscimo de nota para passar no vestibular. Os cursinhos substituem o papel da escola ao complementar o conhecimento do aluno, o que mascara a realidade da educação no Brasil. E ao distorcer a qualidade real do ensino médio, essa prática impede que se perceba de fato as deficiências da educação e que se tome as medidas corretas para melhorá-la.

Outro problema é que há um grande desequilíbrio entre aqueles que se preparam pelos cursos e os que não têm condições para tal, ou que não o desejam fazer. Assim, é ainda mais difícil estabelecer a real situação da educação. Nesse contexto de desigualdade, surge uma nova questão: criar uma estratégia para tentar equilibrar essas disparidades.

Também é importante que as provas do Enem mantenham a complexidade que apresentaram neste ano. A interdisciplinaridade do exame, que avalia competências e habilidades, deve continuar trabalhando profundamente com a interpretação do aluno, já que grande parte deles está se preparando melhor pelos cursinhos. Quanto à diversidade de níveis de conhecimento que o cursinho acabou por criar, é preciso pensar em alternativas para uma melhor avaliação, sem perder de vista que o Enem avalia o ensino médio e não o cursinho.
Por Nathalie Arruda Guimarães

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