domingo, 30 de novembro de 2008

Efeito Borboleta Verde

Esta semana ficamos sabendo de mais um capítulo da atual e incoveniente novela do meio ambiente. As chuvas em Santa Catarina que mataram e desabrigaram centenas de pessoas podem ter sido conseqüência do impacto do aquecimento global sobre a Amazônia. A notícia, que espanta e, ao mesmo tempo, entristece a nossa querida pátria amada teve papel fundamental. Serviu para mostrar aos ingratos moradores do planeta que a pétala arrancada em qualquer latitude ou longitude pode significar a condenação de toda a Terra.
As chuvas em Santa Catarina levaram ao palco das discussões ambientais um problema que, por muito tempo, preferiu-se jogar para debaixo do tapete. Na dinâmica ecológica, poluições ou estragos feitos e um determinado país podem prejudicar qualquer nação do planeta. É possível começarmos a análise engatinhando e chegar a exemplo simples de que muito gás carbônico foi lançado na atmosfera e, em conseqüência disso, convivemos hoje com o aquecimento que traz males de norte a sul. O problema maior de tal situação é que muitas vezes nos esta apenas vendarmos nossos olhos, pararmos em frente ao paredão e esperarmos o tiro. E, apesar de catastrófico, esse pensamento é válido quando consideramos que atualmente há pouca preocupação com as questões verdes.
Países de distintos continentes muitas vezes deixam de lado os assuntos que podem significar sua qualidade de vida e sobrevivência para ocupar o pódio do desenvolvimento tecnológico. Em outros contextos, vemos aqueles pequenos estragos de cada dia, que apesar de parecerem inofensivos, são tão negativos quanto os grandes estragos. A lógica é simples: os copos descartáveis, por exemplo, utilizados sem controle em empresas tornam-se uma “montueira” de lixo em curto espaço de tempo. Assim, nossos pequenos consumos inocentes são também nossos pequenos grandes poluidores.
Buscar os avanços tecnológicos é bastante relevante e essencial para a evolução humana. Entretanto, deve-se caminhar em harmonia com o meio ambiente. Podemos simplesmente seguir a moda e colocarmos no nosso dia-a dia idéias como a sustentabilidade. Assim, poderemos crescer de uma forma segura e satisfatória. Afinal, assim como atitudes ruins podem vitimar várias nações; boas escolhas podem favorecer e contagiar o planeta.
por Lorena Molter

sábado, 29 de novembro de 2008

2008: sem minimalismos

Dois mil e oito foi marcado por grandes acontecimentos. Muitos deles, porém preocupantes. Crimes, desastres naturais, eleições, esporte e crise financeira. Neste ano os fatos tiveram grande magnitude e enorme repercussão.

Pela primeira vez na história a China ganhou as Olimpíadas. Um arranhão na imagem do grande império americano, que sempre se orgulhou de seus feitos esportivos.

O país se horrorizou com os mais variados tipos de crimes. O caso Isabella Nardoni (em que todos se sentiram no direito de julgar), e o caso Eloá (em que ficamos em frente às televisões assistindo como em uma novela cada “novo e triste episódio”) foram com certeza os de maior estardalhaço.

Os diagnósticos ecológicos ficaram piores a cada entrada no noticiário. Os desastres mataram um grande número de pessoas, mas ao que parecem ainda não foram suficientes para conscientizar a população mundial.

Um negro foi eleito presidente dos Estados Unidos. Na tentativa de reaver o orgulho americano, o cargo de maior poder no mundo vai ser ocupado por um descendente de mulçumanos, com sobrenome Hussein.

A crise financeira chegou abalando as estruturas do capitalismo mundial. O mercado financeiro vive momentos de incerteza, a única vaga previsão que podemos fazer é que o neoliberalismo no molde que conhecemos desaparecerá.

O que une todos esses fatos? A vasta cobertura que a imprensa conferiu a esses acontecimentos. Porém, devemos olhar criticamente para esse excesso de exposição. O que deveria ser informação passou a virar espetáculo, o foco saiu do fato puro, suas repercussões e passou a ser o caráter espetacular. A velocidade com que novas informações são dadas impede que os espectadores tenham tempo de raciocinar sobre o que lhes é apresentado. A imprensa tem perigosamente interferido de forma direta nos fatos (chegado ao extremo ao conversar com um seqüestrador no caso Eloá), quando seu dever é o de repassar informações. As notícias “pipocam” e na maioria das vezes ficamos sem saber qual é o desfecho dos fatos. Os meios de Comunicação deveriam ser mais responsáveis, e medir as conseqüências da busca desesperada pela audiência que muitas vezes geram informações falsas e coberturas de má qualidade.

Por Dafne Nascimento

Homem de preto ou TV em cores: quem manda mais?


por Pedro Brasil Silva

Desde domingo, os noticiários esportivos têm um único foco: o pênalti cometido – ou não – por Leo Fortunato do Cruzeiro em Diego Tardelli do Flamengo aos 48 minutos do segundo tempo, não marcado pelo árbitro Carlos Eugênio Simon. O lance foi extremamente duvidoso até para as câmeras da televisão. Para quem viu o jogo pela TV aberta, o toque do zagueiro no atacante é nítido, porém uma câmera exclusiva da ESPN mostra que o atacante pode ter simulado a infração. Todavia, o mais importante dessa história não está no erro do juiz. Aliás, erros de arbitragem sempre estiveram presentes na história do futebol (quem não se lembra da “Mão de Deus” de Maradona contra a Inglaterra que classificou a seleção argentina à semifinal da Copa de 86, no México). O problema está na proporção que o possível equívoco chegou. Passou-se a comentar e analisar apenas a desempenho de Simon ao invés de exaltar a grande atuação do time celeste e a inoperância do sistema defensivo rubro-negro naquele que, para muitos, foi o melhor jogo do campeonato. E todo esse barulho foi criado por uma falta que mesmo com o auxílio dos replays, variados ângulos de câmeras e congelamento de imagens não atingiu um consenso entre os jornalistas esportivos.

Grande parte da mídia esportiva nacional apoiou o Flamengo e execrou o arbitro. Muitas acusações à índole de Simon foram levantadas e o juiz, que já apitou duas Copas do Mundo teve sua credibilidade posta em xeque. O vice-presidente de futebol do time carioca, Kléber Leite chegou a afirmar que Simon “deveria aprender a ser homem”. Isto não é papel esperado de um time com uma imensa legião de torcedores como é o Flamengo. Cabia ao rubro-negro acatar a derrota, juntar os cacos, levantar a cabeça e lutar - afinal de contas, ainda restam as duas últimas rodadas do campeonato e a diferença do time para o quarto colocado da competição é de apenas um ponto.

A revolta da equipe carioca com a atuação do juiz foi tão grande que a diretoria flamenguista organizou um dossiê com alguns erros de Simon e o entregou à FIFA. O intuito é de eliminar o juiz da equipe de arbitragem para a próxima Copa do Mundo. E o árbitro, que já foi apontado diversas vezes como o melhor do país, quase perdeu a possibilidade de ir à África do Sul representando o Brasil no quadro de juízes (só não saiu do efetivo pelo fato de ser o único brasileiro indicado).

É importante destacarmos que no jogo de domingo Simon não marcou uma penalidade a favor do time celeste no primeiro tempo, ou seja, errou (ou possivelmente errou) contra as duas equipes, não estava mal intencionado ou tendencioso a favorecer um ou outro time. Além disso, era claro que o árbitro não estava em um bom dia, inverteu faltas, ignorou outras e estava longe dos lances. Acontece, inclusive com os melhores. Afinal de contas: errar é humano (e os juizes são “muito humanos” até por conta da responsabilidade que é investida neles). A campanha “Anti-Simon”, criada mídia e pela diretoria do Flamengo foi e é bastante covarde. Ele foi julgado e condenado por um possível equívoco que nem os recursos televisivos deram uma resposta definitiva. Qual o critério deste julgamento? Sendo que o árbitro no campo de jogo não tem outro recurso visual além dos próprios olhos e a ajuda de seus auxiliares? Acredito que o julgamento da arbitragem através de imagens congeladas deixa os homens do apito em uma posição inglória e desprestigia seu trabalho, já que eles não têm a possibilidade de recorrer a tais recursos. Pode-se resolver esse problema de duas formas: viabilizar as imagens gravadas aos juízes durante a partida, assim como no basquete, parando o jogo a cada lance duvidoso (hipótese improvável), ou respeitar o apito do juiz, confiar na sua honestidade e perceber que, a autoridade máxima do jogo, é o homem de preto e não a TV em cores.

O poder dos fortes sobre os fracos

É assustador ver como os casos de violência contra a criança crescem desenfreadamente a cada dia. Ao ligarmos a TV, abrirmos um jornal, nos deparamos freqüentemente com situações como a de Isabella Nardoni, morta ao ser arremessada pela janela de um prédio. Parece até que virou uma coisa corriqueira do dia a dia.
Além da violência física, outra que se faz presente é a sexual. O caso mais recente, divulgado pela mídia, ocorreu no último fim de semana, quando um homem foi preso acusado de ter estuprado a própria filha, de 11 anos.
Estatísticas mostram que a violência contra a criança é cometida, na maioria das vezes, pelos pais. Não só agressões físicas, mas também psicológicas e sexuais. Algumas estatísticas nacionais destacam que o principal tipo de mal-trato praticado pelos pais contra os filhos é a negligência.
Os maus-tratos às crianças ocorrem em todo o mundo. Nos Estados Unidos, são registrados cerca de 1,5 milhão de casos na família, por ano. Desses, duas mil crianças morrem. No Brasil, a violência doméstica é tão freqüente quanto nos Estados Unidos. Cerca de 600 mil crianças e adolescentes são maltratados pelos pais, todos os anos, em nosso país. Dessas, 1800 (0,3%) morrem. Infelizmente, poucos são os casos notificados. Acredita-se que, para cada 20 casos de violência, só um é notificado.
Assim como qualquer país do mundo, nenhuma classe social está livre da violência contra a criança. Muitos, erroneamente, associam ela à pobreza, acreditando que só acontece nas classes inferiores da população.
O mal-trato contra a criança é crime, por isso quem o pratica deve ser punido. No entanto, o que vemos é que isso raramente acontece. São poucos os casos de violência dos pais contra os filhos que chegam à Justiça, e raríssimos são os pais que recebem alguma punição.
Mais triste é ver como a violência está banalizada. As pessoas se acostumaram com ela, perdendo a capacidade de indignação. A violência contra a criança é um ato de covardia. Devemos buscar outras formas de educar filhos. É preciso dar a eles carinho, afeto, amor. A violência deixa marcas que podem durar por toda a vida.
Por Luana Lazarini

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Peculiaridades do Alasca

O Alasca é uma região peculiar. É o lar dos esquimós e ursos polares. É um território que já pertenceu à Rússia e atualmente é um estado norte-americano. Como se não bastasse, ganhou destaque na corrida presidencial dos Estados Unidos por ter sua governadora como candidata a vice-presidente na chapa de John McCain.. Ela, por sua vez, é uma das maiores peculiaridades desta terra do ártico.

Sarah Palin deu, entre uma e outra gafe, muitas declarações polêmicas. Em seus discursos, disse que o aquecimento global não é efeito de ações humanas, mas é "Deus dando um abraço mais forte na Terra". Para demonstrar sua experiência com política externa, a governadora do Alasca usou como argumento a proximidade do estado que governa com a Rússia. Em uma entrevista, não soube citar o nome de algum jornal ou revista que lê. Uma de suas maiores gafes, no entanto, foi afirmar, antes do fim da disputa pela Casa Branca, que já pensa em concorrer à presidência de seu país em 2012.

Ela foi tratada pela mídia como uma "americana média". Humoristas de programas famosos destacaram seu sotaque interiorano e suas posições fundametalistas. Sarah é contra o aborto – mesmo em casos de estupro ou anencefalia – e a favor da guerra contra o Iraque, que, aliás, ela acredita ser uma missão divina. Mesmo as feministas se posicionaram contra a candidata republicana. Para elas, Sarah é o oposto do que o movimento defende.

Logo que foi escolhida por John McCain, surgiram acusações contra Palin. Ela está sendo investigada por abuso de poder por ter exigido a demissão de um ex-cunhado. Além disso, a governadora cobrou do estado do Alasca 312 diárias, totalizando U$17 mil, em um período que continuava morando em sua residência, a 40 minutos da sede do governo. Outro fator que chamou a atenção durante a campanha foram os gastos do Partido Republicano para renovar o guarda-roupa de Sarah e torná-la apresentável ao eleitorado. Foram desembolsados mais de U$150 mil.

Desde sua entrada na campanha presidencial, Sarah Palin demonstrou ser uma pessoa fundamentalista e de extrema direita, característica mais comum e bem vista pelos republicanos. No único debate entre os candidatos a vice-presidente, Sarah foi elogiada por defender seus pontos de vista, mesmo que não sejam populares entre grande parte do eleitorado.

O resultado das eleições, porém, demonstrou que apesar do gás que Palin levou à campanha republicana com seu ar jovial e sua “publicidade espontânea” na mídia, a governadora não foi capaz de descolar da sua chapa o continuísmo aparente entre Bush e McCain. E, como as pesquisas indicavam, os eleitores norte-americanos clamavam por algo novo – não o velho repaginado.

E viva a democracia venezuelana!


A Venezuela é governada pela polêmica figura de Hugo Chávez, a nada menos do que 10 anos. Em 1998, eleito com votação esmagadora, aquele revolucionário era uma promessa de melhora para a população venezuelana. Chegou prometendo mundos e fundos! Queria acabar com a corrupção, com o modelo ao qual denominava “neoliberal selvagem”, além de resgatar as instituições e reorientar o papel do Estado. Segundo ele próprio, tiraria a Venezuela de uma “tumba podre” e promoveria sua “ressurreição”.

A oratória foi boa. As promessas também. E no começo, até que alguma coisa ainda foi feita. Porém, depois de uma crise econômica forte, Chávez viu sua popularidade despencar aos poucos. O que se dizia o “presidente dos pobres” fez juz ao nome, já que esta é a condição de cerca de 80% da população da Venezuela.

Como se não bastasse a ineficiência na manobra da máquina governamental, Hugo Chávez sempre adotou uma postura arrogante e rude tanto em relação ao seu país, como nas relações exteriores. Alvo de críticas no mundo inteiro, é um presidente autoritário e com visão de governo muito limitada. Muitas vezes, parece agir muito mais movido pelo impulso do que pela competência.

No último dia 23, o partido do presidente ganhou a maioria das eleições regionais e passou no teste de influência política no país. Em seu discurso, Chávez afirmou que as eleições "demonstraram que aqui [na Venezuela] há um sistema democrático e que a decisão do povo é respeitada".

Mas é claro que é! Alguém ainda tem alguma dúvida. As pessoas podem ter liberdade de escolha, desde que essa escolha não vá de encontro ao que pensa o presidente. Aliás, podem se manifestar abertamente, mas essa manifestação não deveria envolver críticas a Chávez, se não quiserem que os membros das Forças Armadas sejam presos, os jornais fechados e as passeatas dissolvidas.

Mas, se com todos os contras que pesam na balança de Hugo Chávez, a população da Venezuela ainda quer que ele se mantenha no poder... viva a grande democracia autoritária e opressora da República Bolivariana da Venezuela!

por Laís Souza

Já?!

por Marcella Ganimi

A constatação de que chegou o fim do ano traz duas sensações simultâneas: de alívio e de assombro. Alívio porque chega o período de descanso de um ano inteiro de intensas e numerosas atividades, e o assombro porque parece que o tempo passou rápido demais. É como se tivéssemos feito muita coisa em um ano, mas nem de longe fizemos tudo o que queríamos, programamos, e, principalmente, precisávamos. Ao mesmo tempo, tanta coisa aconteceu que não conseguimos nem mesmo lembrar do conteúdo da listinha de objetivos a serem alcançados, que fizemos no dia 31 de dezembro do ano passado.
E então nos olhamos e nos damos conta que o tempo passou sem que pudéssemos perceber. Nós trabalhamos, estudamos, fizemos (muitas) horas extras, ficamos estressados. O ano passou e a listinha do reveillon quase não foi riscada. Muitos objetivos serão – mais uma vez – reescritos na lista do próximo ano. Pensando matematicamente: as metas estabelecidas para 2008 que não forem cumpridas, serão parte dos objetivos de 2009. Isso resulta numa diminuição considerável do tempo nos próximos doze meses para resolver questões relativas a esse mesmo período.
A praticidade necessária no decorrer dos dias nos impede de sonhar um pouco mais com aquela aula de dança, um curso de pintura ou então – o que é mais assustador – com um pouco mais de tempo para a família ou os amigos. Isso vai ficando para as próximas listas. E aí não dá tempo de pensar muito, porque a falta de tempo nos tira também a criatividade. As nossas relações tem sido superficiais pela falta de tempo e excesso de problemas para resolver. Estamos deixando de ser humanos e, o que é pior, sentindo – e nos tornando – cada vez mais vazios e produzindo cada vez mais.
Tento pensar numa solução prática. Não encontro. Mas a idéia de antecipar a lista, assim que entrar de férias, me parece bastante considerável. Dessa forma, adianto o processo, que tem sido atrasado ano após ano.E, de súbito, me lembro que dia é hoje. Olho, desesperada um calendário e apenas uma pergunta me vem à cabeça: Já?

Assim caminha a humanidade

Bush tem hoje, nos Estados Unidos, um papel semelhante ao de Collor, aqui no Brasil, há dezessete anos: o de provocar indignação no povo e de levá-lo a agir. Através de linhas tortas, a história talvez esteja tomando um rumo certo agora, ou pelo menos melhor. Foi preciso os Estados Unidos passarem por tudo o que passaram para que a população sentisse vontade de participar ativamente de um processo de mudança.
Bush começou seu governo de vento em poupa. Logo no final do primeiro ano de seu mandato, após os atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente encerrou o ano com mais de 90% de apoio popular. Até aí tudo bem, normalmente em período de guerra a população costuma apoiar o governo. Bush conseguiu manter esse apoio por mais um ano depois dos atentados, mas não foi suficiente. Em 2003 os índices de aprovação começaram a decair e, em 2007, Bush já era considerado o presidente mais impopular das últimas décadas. Não só a população americana, mas o mundo, estavam contra Bush. A imagem de um país egoísta e despreocupado com as questões mundiais foi instaurada e Bush colaborou, e muito, para que o mundo se tornasse tão anti-americano.
Surge então a figura de Barack Obama que, com a promessa de mudança, se elege presidente da maior potência mundial. Todo esse frisson sobre a eleição de Obama não está ocorrendo pelo fato de que ele é a promessa de mudança. Não! Imagine: um negro eleito presidente em um país que há anos separava os bebedouros de negros e brancos. A mudança que Obama carrega consigo é o reflexo da mudança de consciência do povo americano, e isso já é uma conquista e tanta! Quem poderia imaginar: um país considerado tão racista elegendo um representante negro.
Foi preciso Bush invadir o Iraque atrás de petróleo, ignorar o Protocolo de Kyoto e construir uma imagem tão negativa dos Estados Unidos, para que a população se desse conta do problema ali instaurado.
É a velha história de a necessidade fazer o sapo pular. A população dos Estados Unidos se viu na obrigação de fazer alguma coisa pelo país e de escolher um presidente que não fosse correligionário de Bush. Pode ter sido falta de opção no começo, mas depois, com uma simpatia internacional poucas vezes vista, Obama ganhou cada vez mais espaço, até chegar a presidência dos EUA.
Depois de tanta tempestade, finalmente a bonança. Ou pelo menos uma trégua, com a promessa de que nuvens escuras não irão se aproximar tão cedo da potência.
Agora é esperar e lutar para que o sonho de Martin Luther King seja mesmo o de Obama, e que se realize. Assim como Collor, George Bush sai da presidência pela porta dos fundos, mas tendo feito um grande favor à humanidade.
por Anna Flávia

Que as águas de março fechem o verão

O ano caminha para a reta final e é inevitável não lembrar isso. Não porque esteja acabando, mas sim por se tratar de 2008. Sem dúvida, várias gerações futuras vão lembrar e até mesmo estudar esses doze meses. Muita coisa aconteceu. E não foi somente isso. Muita coisa importante aconteceu.
Detalhar todos os fatos ocorridos é difícil, porém, muitos devem ser registrados. A maior potência do mundo vai ter, pela primeira vez na história, um presidente negro. O que parece não ser tão expressivo hoje, na realidade é um sonho que começa a se consumar. O sonho no qual Martin Luther King falava na década de 60. Ainda não é o ideal, uma vez que o preconceito é forte nos EUA, mas já é um importante passo para uma sociedade mais igualitária. Na Fórmula 1, o mesmo feito. O que era impensável há algum tempo se concretizou. Lewis Hamilton, um negro, é o melhor da categoria. Tristeza aos brasileiros, que viram Felipe Massa a um triz de conquistar o título. No entanto, a paixão e orgulho brasileiros pelo esporte voltaram a existir como nos velhos e bons tempos de Senna, Piquet e Fittipaldi.
Esse ano retoma-se a discussão política e econômica mundial. A crise financeira assusta como 1929, e vem à tona até que ponto o mercado deve se auto-regular sem quaisquer interferências do Estado. A grande polêmica de todo o século XX está de volta, mas em moldes diferentes. Ainda no campo político, o Brasil atravessou mais um ano de eleições municipais. Ocorreram atrasos e avanços. A democracia brasileira amadurece, mas infelizmente, persiste a corrupção de compra de votos. A Polícia Federal continuou cassando políticos, combatendo a corrupção até mesmo dentro da própria instituição. Prato cheio também nas páginas policiais. O trágico caso da menina Isabella Nardoni e mais recentemente o assassinato da jovem Eloá.
Ano do esporte também. As Olimpíadas de Pequim foram históricas. A hegemonia dos EUA foi quebrada. A China surge como a grande potência esportiva e mostra sua força política. O Campeonato Brasileiro está prestes a ver algo inédito. Desde 1971, quando surgiu a competição, é a primeira vez que um time está muito próximo de conquistar o torneio pela terceira vez consecutiva. Os pontos corridos mostram a verdadeira face dos times brasileiros. Os que se preparam, como São Paulo, Cruzeiro e Palmeiras, no topo da tabela. Enquanto os desorganizados Vasco e Santos lutam para não serem rebaixados para a série B.
Esse ano também é de comemorações. Há 50 anos surgia a Bossa Nova. Um verdadeiro marco da música brasileira, que colocou o talento do Brasil para o mundo inteiro. Também em 1958, o Brasil vencia sua primeira Copa do Mundo, mostrando o talento de Pelé e Garrincha. Os 200 anos da chegada da família real portuguesa no Brasil, e uma colônia que se encaminhava para a independência.
O ano vai chegando ao fim, e cidades brasileiras afundam nas águas. As chuvas mal começaram, mas já trouxeram estragos irreversíveis. Cidades inteiras paradas. Realmente muita coisa aconteceu e a natureza continua a ser prejudicada. As guerras não terminam. Conflitos no Leste Europeu, no Oriente Médio, na Índia, nas favelas do Brasil. O tempo passa, e a humanidade não sai do lugar. 2008 é como se fosse uma aula de História. Política, economia e sociedade tão pensadas e revistas. Mas o que se vê é o tempo repetindo. A mesma história de sempre. Ano passa, ano vem e o mesmo persiste. Até quando o ano seguinte vai ser a esperança? 2009 chega e com ele muitas perspectivas (as mesmas que serão escritas daqui um ano). E o que esperam nesse momento é que as águas de março fechem o verão e que venha a promessa de um político ladrão.

por José dos Reis Valentim Júnior

Já era hora

Com um pé na segunda divisão do ano que vem, o Vasco da Gama é hoje o reflexo da má administração dos últimos anos. A bomba estourou no colo do maior ídolo do clube, agora Roberto Dinamite tenta a qualquer preço tirar o time da lama.
Nas mãos do déspota Eurico Miranda o Vasco venceu sim, mas sempre deixando a sujeira por baixo dos panos. Denunciado pela CPI do futebol por má administração e enriquecimento ilícito o ex-presidente do clube manchou o nome do Vasco e colocou o time da Cruz de Malta no hall dos clubes mais odiados do país.
Hoje o Club de Regatas Vasco da Gama ocupa a 18ª colocação no Brasileiro e está na zona de rebaixamento a duas rodadas do fim do campeonato. O Vasco é um daqueles times que merece experimentar o sabor amargo da segundona o quanto antes, não pela torcida , muito menos pela atual diretoria, mas para mostrar ao futebol brasileiro que a entidade vai pagar por ter aceitado, por tanto tempo, que Eurico mandasse no clube.
Sem respaldo frente a patrocinadores o Vasco não conseguiu montar um bom time e figura entre os últimos colocados desde o início do Brasileirão. Com um elenco que conta com Wagner Diniz e Abubakar o torcedor já não esperava ver espetáculos em São Januário, mas não imaginava depender de outros times para permanecer na elite do futebol brasileiro.
Disputar a segunda divisão em 2009 está cada vez mais perto, não dá mais para virar a mesa. Pela incompetência e pelo descomprometimento com o clube nos últimos anos 'já era hora' do Vasco frequentar o calvário da segundona.

por Thamara Gomes

Futebol: paixão e lucro


Quem acompanha futebol, seja pela TV ou pelo Rádio, já percebeu que as transmissões esportivas já não são mais estreladas somente pela bola, os onze jogadores e a torcida. O “espetáculo esportivo” mais assistido pelos brasileiros tem sido invadido pela publicidade, que vê na bola rolando nos campos mais que paixão e esporte, lucro.
No início das transmissões esportivas, tanto no rádio quanto na TV, a infra-estrutura era precária e as transmissoras encontraram na publicidade uma forma de se manterem. Até aí, justificável a inserção da publicidade nas transmissões. Mas a partir de então, e justamente por causa do futebol, as empresas cresceram e se enriqueceram muito. O certo seria que a publicidade não ocupasse tanto espaço em meio ao espetáculo futebolístico, porém isso não ocorre. As transmissoras viram que, o acordo entre elas e a publicidade, só rende lucros para ambas, então “em time que está ganhando não se mexe”.
Os narradores, inicialmente jornalistas, têm se confundido com publicitários. As mesas redondas, criadas no rádio, mas hoje características da TV, guardam esse aspecto, onde os “comandantes” das mesas são os publicitários, os “garotos-propaganda”. Em um cenário onde deveria prevalecer a informação, onde o narrador, o comentarista, deveria formar opinião, transforma o torcedor em consumidor, de produtos nem sempre ligados ao futebol. O torcedor liga a TV pra saber um pouco mais sobre o seu time, sobre a rodada do campeonato e lhe é servido algumas opiniões mescladas por anúncios de esponjas de aço, refrigerantes e máquinas fotográficas.
E não é apenas o torcedor da TV e do rádio que vê seus “ídolos” e a bola dividirem espaço com os comerciais, nos estádios também é possível perceber a invasão do marketing. As placas ao redor do campo, anunciando que a próxima novela das oito estréia na segunda-feira, não acrescenta pontos ao time que luta pelo título.
A publicidade e as grandes empresas que patrocinam os clubes têm exercido um papel tão forte no cenário futebolístico, que tem torcedor que não consome determinado produto porque ele vem estampado na camisa do arqui-rival. È a publicidade e o nome das empresas que patrocinam os times mais forte que o nome do clube, usando a paixão do brasileiro pelo futebol como “caça-níquel”. Algumas empresas se tornam importantes para alguns times, temos a Unimed, que vem patrocinando o Fluminense desde a sua “visita” à terceira divisão do Campeonato Brasileiro, e o “levou” à final da Libertadores 2008. Sim, o investimento da empresa no Tricolor carioca influenciou, novas contratações e pagamentos em dia nas Laranjeiras.
Ilusão pensar que o “pacto” entre esporte e publicidade poderia ser menos intenso. O fato do “futebol como negócio” no Brasil já foi consumado, tem até “passe” de jogador sendo discutido no caderno de Economia. O espetáculo mais assistido de todos deixou de ser exclusivamente esportivo há tempos, mas não deixará de ser acompanhado por isso. O futebol é movido por dinheiro, claro, mas nunca deixará de ser pela paixão. Torcedor que é torcedor engole a publicidade com fome de que em seguida ele possa ouvir um lance incrível ou ver uma jogada sensacional. Enquanto isso ocorrer, enquanto a paixão pelo futebol ainda existir, a publicidade pode comemorar.
por Camila Carolina

Será que ele é...tão bom assim?

Esse ano a Fifa resolveu aumentar o suspense em relação ao nome que sucederá Kaká na lista dos melhores jogadores do mundo. O anúncio do vencedor que antes acontecia em dezembro, agora passou para janeiro de 2009. Nessa disputa, os principais candidatos são Cristiano Ronaldo e Messi. Estrelas carimbadas pelo sucesso que fazem em seus clubes, enchem as manchetes dos jornais com especulações sobre quem vai vencer e elogios mútuos. Mas o português salta à cena e nos últimos meses só se ouve falar que Ronaldo é, vai ser, já foi consagrado como “o melhor”.
Tudo contribui para tal antecipação. O bicampeonato da Liga Inglesa e o conquista da Champions League. Fatores que pesam na escolha final. Com Kaká aconteceu o mesmo. Campeonato Italiano, mais Liga dos Campeões, mais Mundial Interclubes foi igual ao título de melhor do mundo pela Fifa. O mais importante e almejado prêmio por todos que vivem do futebol. Os 42 gols de Cristiano Ronaldo também ajudam muito na contagem de fatores que o eleva ao primeiro lugar na lista de apostas. Com um estilo próprio e muitas vezes questionado pelos críticos, o português da ilha da Madeira mostrou ao mundo na temporada passada todo seu potencial de bom futebolista. A primeira prévia de que seu nome é realmente forte no páreo de janeiro é o prêmio que ele recebeu em outubro da FIFPro (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol) como melhor jogador do ano. Assim, Ronaldo começa seguindo os passos de Kaká no ano passado.
Mas aí, a história dos dois jogadores começa a trilhar um caminho diferente. Kaká ganhou sem todo esse “oba-oba” que ronda Cristiano Ronaldo, e mais importante, quase ninguém colocou em dúvida que ele levaria mesmo o prêmio da Fifa. Com Ronaldo as opiniões dos críticos divergem. A atuação apagada na Eurocopa desse ano, o começo morno no Manchester United na temporada 2008/09 e o seu excesso de confiança no título lançam farpas sobre a “marra” do português. Criticado pelas faltas que ele sempre cava (cai de madura mesmo!), encontrou em seus técnicos (todos!) seus principais defensores e assim, sai como o perseguido dos zagueiros. Só que o camisa 10 do Barcelona vem comendo pelas beiradas. Messi tem prestígio, bem menos críticas e vira-e-mexe vem com uma jogada ou drible que só os melhores sabem fazer. E aí a disputa engrossa novamente.
A verdade é que só o tempo vai confirmar o peso de todos esses fatores na escolha de Cristiano Ronaldo como o melhor do mundo. Se dependesse dele o 1º, o 2º e o 3º lugar seriam dele. Mas será que ele vai conseguir carregar todos os troféus só com duas mãos? Ainda bem que a Fifa não dá a um só todos eles. Dividindo entre três é melhor e mais fácil de levar pra casa. Cada um ocupando a posição que merece. É só esperar para saber qual vai ser a de Ronaldo.

Magali Pereira

Quando eu crescer quero ser...

... um integrante da Al Qaeda. Espantou-se? O problema é que tem muita gente mundo afora que pensa assim.

Se depois de alcançar o ápice de sua glória nos ataques aos EUA e a Madri a organização terrorista não conseguiu mais “grandes feitos”, uma coisa é inegável, ela espalhou a semente pelo mundo.

É isso que temos visto nos últimos anos em atentados à Londres, Intambul, Beslan, Islamabad, ao Cairo e a tantas outras cidades. Ataques com a marca e sem a participação da Al-Qaeda . E é isso que vimos principalmente essa semana em Mumbai (ou Bombain), quando um bando de moleques de vinte e poucos anos conseguiram sem muita dificuldade atacar a tiros e granadas um hospital, uma estação de trem, um posto policial e dois hotéis de luxo da capital financeira da Índia. Os terroristas provavelmente não têm ligação nenhuma com o grupo de Osama Bin Laden, só admiração.

A Índia, que forma junto com Brasil, Rússia e China o “BRIC”, experimenta um desenvolvimento nunca visto em sua história recente e a cidade atacada é um retrato disso. Mas como é típico na globalização, o desenvolvimento é conhecido somente por alguns.

Os moradores do norte do país, por exemplo, são deixados à margem desse progresso. A suspeita é que venham de lá os terroristas do Deccan Mujahideen, apesar de o nome significar Combatentes do Sul. Especialistas afirmam que essa é apenas uma forma de tentar despistar as autoridades.

Os moleques terroristas escolheram os hotéis de luxo como principal alvo com um objetivo: vitimar estrangeiros. São muitas as notícias de mortos e sobreviventes vindos de países desenvolvidos. Italianos, japoneses, israelenses, um multimilionário inglês, a prefeita de Madri e muitos outros estavam em Mumbai no momento dos atentados. Testemunhas contam que os terroristas perguntavam por passaportes britânicos ou americanos.

O governo da Índia fez como o Deccan Mujahideen e voltou seus olhos pra fora do país. A acusação ao Paquistão veio imediatamente, mesmo que não tenha vindo de forma clara. É preciso que Nova Delhi assuma primeiro os próprios erros. Só assim vai descobrir qual a participação externa, se é que houve mesmo essa participação.

Segundo fontes oficiais já são 125 mortes, mas estima-se que esse número possa subir consideravelmente nos próximos dias, pois os desaparecidos ainda são muitos. A nova Al-Qaeda é assim, não tem chefe, não tem sede, nem cúpula. Al-Qaeda é uma ideologia, que qualquer um pode seguir quando crescer. Basta reunir umas armas, umas bombas e umas mentes doentias. O pior é que os moleques da Índia nem esperaram crescer pra realizar o sonho.

por José Roberto Castro e Silva

Milagre naufragado

Já se falou em números exorbitantes relacionados a distâncias, investimentos e volume de petróleo existente na região do pré-sal. A discussão de hoje tem em pauta valores bem mais humildes. Entretanto, o que reduziu não foi a dificuldade de exploração do petróleo pela distância ter encolhido ou por terem visto que os investimentos poderiam ser menores. O valor do petróleo, agora menor, traz à realidade a verdadeira viabilidade econômica de explorar as reservas submersas- ou pelo menos deveria.
O preço do petróleo, em junho, alcançou quase US$ 150 o barril; o que fez com que o pré-sal fosse chamado de “sinais de Deus” pelo presidente Lula. Atualmente, toda essa empolgação foi por água abaixo. O preço do barril encontra-se variando entre US$ 50 e US$ 60, fazendo com que a nossa fortuna submersa não seja mais vista como o milagre salvador dos brasileiros.
Mesmo com a crise mundial e com os baixos preços do petróleo, a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmaram que a estatal não trabalha com a possibilidade de adiamento de projetos do pré-sal. Ora, não faz sentido aumentar a oferta de um produto que está em baixa. Com os preços em alta já se discutia se os lucros compensariam os investimentos tecnológicos, agora o retorno financeiro distancia-se cada vez mais. Com a diminuição da receita, a Petrobras deveria se concentrar mais na área de produção e exploração; e o pré-sal deixaria de ser uma reserva econômica para virar uma reserva estratégica.

É óbvio que a diretora da Petrobras e a ministra da Casa Civil sabem disso. O que elas estão tentando evitar é que nossa benção divina seja lembrada apenas como mais um discurso populista. Mas a repercussão do que é dito hoje não é mais a mesma do que foi dito há alguns meses pelo nosso presidente. O que os pobres vão lembrar é das promessas de investimento em projetos sociais e não vão se preocupar em saber como está a economia mundial ou a cotação do preço do barril de petróleo. Para conter mais uma decepção em massa, a ministra vai precisar rever a sua estratégia, ou arrumar outra melhor.

Gisele Barbosa Ribeiro

Avaliação do ensino médio?

No último dia 20, o MEC liberou a consulta das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2008. A média geral das provas caiu em torno de 6,3%. Professores e alunos disseram que a prova estava mais cansativa do que o usual. Embora apresentasse o mesmo número de páginas da prova anterior, as questões continham mais gráficos, tabelas, charges e figuras, que exigiam maior capacidade interpretativa do participante.
O susto foi grande quando a notícia era de que o nível de dificuldade da prova de 2007 havia caído, e a média tinha aumentado. Mas a tendência é que as provas se tornem cada vez mais complexas, visto a utilização das notas dos candidatos como bônus em mais de 500 instituições de ensino superior. Além disso, participar do Enem é requisito para conquistar uma bolsa de estudos no Programa Universidade para Todos (ProUni).

Por um lado, esses benefícios deram grandes chances ao candidato de disputar uma vaga no ensino superior, mas por outro lado, também fizeram crescer no país os cursos preparatórios para a prova do Enem. O objetivo original dessa prova, o de avaliar o ensino médio brasileiro, está perdendo sua credibilidade. O interesse em ingressar no ensino superior suplantou esse objetivo e está fraudando a verdadeira cara do nosso ensino médio, à medida que os cursinhos preparam melhor o candidato.

O Enem, que não chamava tanto a atenção dos alunos, tornou-se o foco principal daqueles que desejam obter qualquer acréscimo de nota para passar no vestibular. Os cursinhos substituem o papel da escola ao complementar o conhecimento do aluno, o que mascara a realidade da educação no Brasil. E ao distorcer a qualidade real do ensino médio, essa prática impede que se perceba de fato as deficiências da educação e que se tome as medidas corretas para melhorá-la.

Outro problema é que há um grande desequilíbrio entre aqueles que se preparam pelos cursos e os que não têm condições para tal, ou que não o desejam fazer. Assim, é ainda mais difícil estabelecer a real situação da educação. Nesse contexto de desigualdade, surge uma nova questão: criar uma estratégia para tentar equilibrar essas disparidades.

Também é importante que as provas do Enem mantenham a complexidade que apresentaram neste ano. A interdisciplinaridade do exame, que avalia competências e habilidades, deve continuar trabalhando profundamente com a interpretação do aluno, já que grande parte deles está se preparando melhor pelos cursinhos. Quanto à diversidade de níveis de conhecimento que o cursinho acabou por criar, é preciso pensar em alternativas para uma melhor avaliação, sem perder de vista que o Enem avalia o ensino médio e não o cursinho.
Por Nathalie Arruda Guimarães

Império de Luz

Cristiney C. Campos

Acho que não ficamos cegos. Acho que sempre fomos cegos.

Cegos apesar de conseguirmos ver.

Pessoas que conseguem ver, mas não enxergar.

O filme “Ensaio sobre cegueira” começa num ritmo acelerado, com um homem que perde a visão de um instante para o outro enquanto dirige. Mergulha em uma espécie de névoa assustadora. Aos poucos, todos acabam cegos. À medida que a doença se espalha, o pânico e a paranóia contagiam a cidade. As vítimas dessa nova epidemia, a “cegueira branca”, são cercadas e colocadas em quarentena num hospício caindo aos pedaços.
O
s serviços do Estado começam a falhar. A passagem do tempo assim como a decadência do hospício são retratadas de maneira dinâmica, através das imagens dos corredores cada vez mais tomados por lixo e detritos. Isso acaba funcionando como uma metáfora do estado de espírito dos personagens. A comida cada vez mais escassa, uma nova “ordem de poder” é criada e as regras do jogo são impostas por um dos cegos que se auto-proclama “rei” e exige “oferendas” de seus “subordinados” em troca dos “favores concedidos” ( comida ).
Ali naquele lugar, p
apéis e status sociais bem como quaisquer semelhanças com a vida cotidiana desaparecem. Os vários seguimentos da sociedade são reduzidos a nada e os meros seres humanos são levados a lutar por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários. Como “primatas” lutam pela sobrevivência em um universo desconhecido e isento das facilidades tecnológicas. São apenas “animais” que acreditam saber “pensar”.
Ironia ou presente do destino, apenas uma mulher que não é contagiada (a mulher do médico), mas que no entanto f
inge estar cega para ficar ao lado de seu amado marido. Armada com uma coragem cada vez maior, ela suporta desde a traição do mesmo até o “estupro” coletivo promovido pelo rei e comparsas. Passa a liderar uma improvisada família de sete pessoas , atravessando o horror e o amor, a depravação e a incerteza, com o objetivo de fugir do hospital e seguir pela cidade devastada, onde eles buscam uma esperança. A jornada da família lança luz tanto sobre a perigosa fragilidade da sociedade como também no exasperador espírito de humanidade.
O que podemos abster é que o foco da obra cinematográfica não é desvendar a causa ou a cura da doença (o que pode incomodar um pouco), mas revelar o desmoronar de uma sociedade que, perde tudo o que considera “civilizado”. Paralelo a esse colapso da civilização, um grupo de internos tenta reencontrar a humanidade perdida. O brilho branco da cegueira ilumina as percepções das personagens e a história torna-se não apenas um registro da sobrevivência física das multidões cegas, mas, também, dos seus mundos emocionais e da dignidade que tentam manter.
A tese sustentada pela obra é de que as pessoas já viviam num estado de cegueira antes mesmo de perderem a visão. Nesta sociedade imperfeita em que vivemos, é justamente nossa visão que muitas vezes nos cega para o que realmente importa, distorcendo opiniões em função de preconceitos que, ao manterem nosso foco no superficial (a cor da pele, a orientação sexual, a etnia) impedem que enxerguemos o real valor daqueles que nos cercam.
Somente com a perda da capacidade do pré-julgamento nos tornamos realmente capazes de estabelecer uma conexão verdadeira com o mundo ao nosso redor. A única cura possível para este isolamento auto-imposto, “a cegueira”, é o reconhecimento de que os humanos dependem profundamente uns dos outros e que “enxergar o próximo” é um exercício de tolerância e amor.
A exemplo disso, temos a cena em que um dos inúmeros personagens sem visão reclama dos abusos cometidos pelo inescrupuloso Rei e comenta, com o companheiro à sua frente, que o sujeito provavelmente é negro, escancarando seu odioso racismo. A beleza desta cena, além da ironia dramática, reside na força de sua alegoria: esse personagem não consegue se dar conta de que, ao contrário do vilão, é seu confidente quem possui o tom de pele que ele tanto parece desprezar.
Ainda dentro da lógica da temática apresentada, pode-se observar o fato de que os personagens não têm nome. São identificados apenas por suas profissões (o Médico, o Contador), por suas relações mais significativas (a Mulher do Médico) ou por suas características mais marcantes (o Garoto Estrábico). Irônico, pois é justamente assim que costumamos definir, de maneira simplista e injusta, aqueles que nos cercam.
A produção é bela, apesar das muitas alfinetadas dos especialistas, e consegue transpor para o universo audiovisual uma parcela interessante da obra de José Saramago. É claro que há perdas com relação à literatura original, o que não chega a comprometer seriamente o excelente trabalho de Meirelles.

Ordem na casa!

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............Mortes causadas por desastres automobilísticos são a tônica do cotidiano brasileiro. Cerca de 40 mil pessoas morrem anualmente em acidentes de trânsito, enquanto outras 500 mil sofrem seqüelas graves, como tetraplegia, paraplegia e invalidez permanente.

............A lei seca, sancionada no dia 19 de junho deste ano, proíbe o consumo de bebidas alcoólicas por condutores de veículos. Mas parece que muita gente ainda reclama, enquanto outros fingem não saber o que realmente mudou. O desrespeito à lei continua, principalmente em algumas cidades menores do país, onde o bafômetro se assemelha a uma espécie de “entidade sobrenatural”. Alguns dizem que ele existe, outros dizem que não, mas a verdade é que ninguém nunca o viu...

............O consumo de bebidas alcoólicas é o principal causador de acidentes no trânsito. Por mais “exagerada” e radical que pareça ser a nova medida do governo, essa é a única forma plausível de obter a diminuição do número de vítimas em acidentes causados por motoristas embriagados. O excesso de álcool no trânsito tem efeito imediato: ele mutila, mata, e para piorar, não coloca em risco apenas a vida do motorista, mas de toda sociedade.

............Todos querem regras que funcionem e “coloquem ordem na casa”. É exatamente isso que a lei seca pretende. Seu objetivo principal não é castigar aqueles que consomem um chopinho ou uma latinha de cerveja para relaxar no final de semana. O que a medida realmente faz é punir devidamente motoristas bêbados e irresponsáveis, que destroem vidas indiscriminadamente no Brasil.

............A nova lei traz uma segurança maior nas questões do trânsito e já é notável a redução no número de acidentes nas ruas de todo o país. É essencial que a fiscalização seja implantada em todos os estados brasileiros e que o número de bafômetros seja suficiente para a atuação das Polícias Federal e Militar, para que a lei funcione permanentemente. Entretanto, a responsabilidade não deve se limitar à polícia. A sociedade também deve ser conscientizada. Medidas puramente punitivas não são a única solução para o consumo excessivo de álcool. A lei seca deve ser integrada a campanhas sociais que busquem tornar os cidadãos cientes do risco de beber e dirigir. A situação é alarmante e a necessidade de um comportamento consciente coletivo é urgente.
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Por Bárbara Schlaucher

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Pedofilia in foco


Está virando moda. Quase todos os dias aparece nos jornais a cara de um suspeito de atentado violento ao pudor. Atualmente, isso se tornou tão comum que uma série de medidas estão sendo adotadas. O presidente Lula , até que enfim, sancionou na ultima terça feira uma lei que prevê penas bastante altas para quem utiliza de conteúdo pornográfico infantil na internet. A lei criminaliza a aquisição, posse, reprodução e armazenamento de qualquer tipo de material que contenha imagens infantis. A medida coloca o Brasil como o maior repressor mundial de atitudes desse cunho. Também não é para menos. Já se foi a menina Rachel Genofre, de nove anos, estuprada e morta por um homem de 52 e a polícia do distrito Federal divulgou que em 15 dias, quatro casos de pedofilia foram registrados no estado. O Brasil a cada noticiário que passa fica sabendo de mais uma história de criança estuprada e morta, nos diversos cantos do país.
Pedofilia sempre existiu, sempre vai existir, é algo difícil de ser controlado. Mas daí a ter se tornado assunto freqüente em todas as rodas de conversa é outro caso. A internet e a televisão são grandes vilões desse “surto”. De manhã, à tarde e à noite a programação apresenta sexo, sexo e sexo. Nas novelas o que se faz é uma apologia que antes era disfarçada, mas vem se tornando descarada à exploração sexual... Quem ainda não viu a casa de tolerância da Dona Cilene em “A Favorita”? Numa época em que as campanhas contra a prostituição estão a todo vapor vem a Rede Globo( que se prega como sendo o supra sumo da cidadania) e faz um papelão desse. Na internet então é que as coisas estão fora de controle. Qualquer criança tem acesso aos mais diversos conteúdos e ficam vulneráveis à ação dos pedófilos. O perfil deles é geralmente o mesmo: homens, viúvos, aposentados ou sozinhos no mundo, que não conseguem mais atender sua necessidades sexuais com pessoas da sua idade e acabam ficando atraídos por menores.
O contato com as crianças é muito facilitado, os pais não controlam o conteúdo ao qual seus filhos tem acesso e aí a arena está pronta. Basta um papinho aqui, umas ilusões ali e até mesmo inofensivas balas como atrativo e a lista com os nomes das vítimas de atentado violento ao pudor aumenta. Tira a sorte grande a criança que, após ser usada, não é assassinada por um desses criminosos. Infelizmente é assim que acontece.
A pedofilia está virando epidemia, a terceira idade, sem sucesso nas suas investidas sexuais (o que não é de se admirar), está apelando para pessoas incapazes de se defender. O governo está fazendo a sua parte, mas os meios de comunicação ainda precisam modificar bastante seus conteúdos para ajudar a diminuir essa palhaçada!

Mais burocracia

O Conselho Nacional de Trânsito resolveu complicar as regras para a concessão da Carteira de Habilitação. Quem quiser aproveitar as férias pra tirar a carteira, que corra, porque no dia 1º de janeiro de 2009, o processo, que já costumava ser demorado, vai ficar ainda mais burocrático. A carga do curso teórico passará de 30 horas para 45 horas. E as aulas práticas também vão aumentar, passarão de 15 horas para 20 horas. Mais essa agora.
Que o curso teórico aumente sua carga horária pelo surgimento de novas leis e para uma formação mais consciente do condutor, vá lá. Mas e quanto às aulas práticas? Não creio que a explicação apresentada -o crescente número de acidentes- seja suficiente para justificar a tomada de tal medida. Quando o aluno acha que está preparado, ele marca um exame. Se fica constatado que ele não está, não passa e pronto. Independente de ter feito 15 ou 20 horas de aulas práticas, o aluno só passa se for capaz.
Salvo, é claro, quando há um esquema por fora, um parente envolvido, um suborno "de leve"... E não é raro que isso aconteça. Só os condutores realmente capazes deveriam ser aprovados no exame de rua e obter a habilitação, sendo de menor importância se ele fez 15 ou 20 horas, mas não é o que vemos. Talvez haja alguma falha na forma como é feita esses exames. Talvez fosse sensato aumentar não só as cargas horárias dos alunos, mas também o profissionalismo dos examinadores. Talvez, mas parece ser mais fácil enxergar só um lado e aumentar os custos para o cidadão.

Meios-direitos

Foi aprovada pelo Senado, na última terça-feira, a medida que prevê a fixação de cotas para estudantes em eventos culturais e esportivos. A decisão institui que somente será permitida a meia entrada para 40% dos ingressos disponíveis. Recriminada pela Une e aplaudida por artistas, com certeza a polêmica medida ainda será alvo de muito debate.

Os artistas compareceram ao Senado para pressionar os parlamentares. O argumento de defesa à fixação das cotas é de que assim seria possível a redução do preço dos ingressos e estimularia a produção cultural do país. Além disso, foi constatada que muitas das carteirinhas de estudante usadas para garantir o preço diferenciado são falsas. Será que adianta limitar o número de ingressos de meia-entrada e continuar permitindo a falsificação de carteirinhas?

O que se verifica neste caso é a ânsia que o governo tem por soluções rápidas, porem efêmeras. No caso da fixação de cotas, é claro que a fabricação de carteirinhas falsas continuará sem uma fiscalização rigorosa. Além disso, muitas pessoas que tem realmente o direito à meia-entrada podem chegar tarde demais e perder a vez para uma falsificação bem-sucedida. E quanto as bilheterias? Possivelmente irão se aproveitar das cotas para alegar o fim da meia-entrada. Não é interessante para os organizadores do espetáculo vender os ingressos mais baratos. No fim, conseguir a o bilhete diferenciado a que se tem direito será raridade.

E quanto a diminuição dos preços? Com certeza as pessoas irão aproveitar o momento para lucrar mais. E o público, que antes era estimulado a prestigiar a cultura ficará desmotivado. O preço aumenta e as pessoas correm das salas de cinema, dos teatros(que mesmo com meia-entrada têm preços salgados!), dos jogos.

Há um abuso, sim, dos ingressos mais baratos. Mas não adianta fazer uma transposição de problemas. A expressão tapar o sol com a peneira se aplica muito bem neste momento. Estão falsificando carteirinhas? Legal! Vamos colocar cotas para meia-entrada! E depois? Quando as salas de teatro e cinema estiverem vazias vão diminuir radicalmente o preço? E acabar voltando ao mesmo ponto, prejudicando artistas e produtores? Não dá pra entender essa estranha lógica de acabar com um empecilho e gerar outro. É necessário medidas reais, que pressionem os falsificadores e estimulem bilheterias a exigir e a fiscalizar as carteirinhas. Aqueles que trabalham com cultura no pais precisam de mais incentivo, de mais verba. E os portadores de carteirinhas verdadeiras precisam ter seus direitos respeitados!Somente criando soluções que combatam o problema pela base, chegaremos a um patamar elevado de respeito a artistas, produtores e espectadores.

Por Márcia Costanti

A moda agora é ser "total flex"

Por Isabela Lobo

Quando se fala em “total flex” muita gente logo pensa nos carros movidos tanto a álcool quanto a gasolina, mas a moda agora é outra. Uma nova tribo, os “heteroflexíveis”, já podem ser encontrados nas baladas mais modernas da capital paulista. São jovens que se dizem heterossexuais, mas dispostos a novas sensações. Segundo eles, rótulos relativos à sexualidade são muito restritos e nessa brincadeira o que importa é conhecer gente. Eles ainda afirmam que não tem nada haver com bissexualismo; casos sérios só com pessoas do mesmo sexo.

Os heteroflexíveis são jovens na faixa dos 20 anos que não se vestem de forma distinta nem andam em grupos. Segundo especialistas em psicologia, a nova onda reflete a curiosidade da nova geração. Afirmam ainda que esses acontecimentos não são recentes, só têm se tornado mais explícitos.

Também conhecidos como “bicuriosos”, eles se aproveitam da relativa liberdade dos dias de hoje para entrar de cabeça em relacionamentos instantâneos. E já possuem até música tema: I Kisses a Girl, da Cantora Katy Perry. A música fala sobre uma garota heterossexual que tem namorado, mas que aprovou a experiência de beijar outra menina.

Um ponto questionável é sobre os limites entre curiosidade e modismo. Uma coisa é fazer o que tem vontade, outra é imitar o que estão fazendo. Experiências são válidas mas é importante estabelecer fronteiras para que uma atitude não se torne banal por que está na moda. Além disso, é importante respeitar as escolhas de cada um, deixando de lado o preconceito e a discriminação.

No cinema...

Já faz algum tempo que eu não vou ao cinema para ver filmes bobos, só para me distrair. Acredito que todos precisem de uma dose de filmes assim, nem que seja para aliviar a cabeça. Mas pelo menos os dois filmes mais recentes que eu vi mexeram comigo: Ensaio Sobre a Cegueira e Última Parada 174. Este último mexeu muito.

Última Parada 174 exemplifica muito bem a expressão um soco no estômago. Não há como negar que parece um clichê, mas é difícil encontrar palavras que o caracterizem. O filme, baseado na história real de Sandro do Nascimento, rapaz que seqüestrou um ônibus no Rio de Janeiro em 2000, choca. Houve quem criticasse a obra cinematográfica, dizendo que fazia com que as pessoas sentissem pena de um criminoso. E não é para sentir pena?

O filme dá um tapa na cara de quem vai assisti-lo. Mostra as crianças, vítimas da Chacina da Candelária, mostra adolescentes envolvidos com drogas e assaltos. Mostra os marginalizados pelo sistema, que não têm outra opção senão o crime. E não é para sentir pena? Não se pode exigir que um criminoso tenha respeito pela vida, uma vez que ninguém nunca respeitou a vida dele.

Há quem diga que não vai ao cinema para ver coisas tristes. Mas acredito que a função da arte é esta: chocar, para que se possa ver os problemas e pensar sobre eles. Antes que se possa tomar qualquer atitude para mudar a realidade é preciso conhecê-la e pensar sobre ela. Não espero que o filme faça uma revolução. Mas incentivar a reflexão já é um passo considerável. Todos sabem que a situação do Brasil é calamitosa, basta assistir a um jornal. Mas ver um filme, se envolver emocionalmente com a história de alguém que personifica todas as notícias de um jornal é muito mais forte. Acompanhar o drama é muito mais forte. E especialmente este drama do seqüestro do ônibus, já que as cenas do filme evocam as lembranças reais desse dia. Na época do crime eu confesso que não prestei muita atenção, ainda era criança. Mas eu tenho ainda as lembranças, mesmo que seja apenas a lembrança da Xuxa escrevendo com um batom em um vidro, no Criança Esperança. Eu me lembro. E vivenciar tudo aquilo de novo não é fácil para ninguém.

Talvez as pessoas evitem assistir a este tipo de filme porque estão fartas da violência e acreditam que bandidos devem simplesmente apodrecer nas cadeias. Ver a ocorrência de um crime sem conhecer a história do criminoso implica em esquecer de que tudo funciona de acordo com a lei de causa e efeito. Mas procurar entender os motivos de um homem que comete um crime bárbaro é arriscado. É arriscado porque corremos o risco de perceber que o problema é muito maior e que já não podemos continuar com a nossa vidinha pacata dentro das grades de casa, dentro da redoma de ilusão.

Meu rosto ainda está vermelho com o tapa que levei no cinema. O que peço é que ele continue vermelho e dolorido, para que a cada dia possa me lembrar de que a negligência é o pior crime.