segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sociedade pós-racial



Por Pedro Guedes

O ineditismo presente no fato de Barack Obama ser o primeiro presidente negro eleito em um país com histórico de racismo exacerbado, como os Estados Unidos, colocou em pauta a possibilidade do surgimento daquilo que especialistas estão chamando de sociedade pós-racial.
Esse termo significa que o problema racial está sendo superado devido a fatores como a globalização, a imigração e o casamento interracial. Dessa forma, a sociedade parou de “enxergar” e de agir conforme a raça, o que fez com que homens e mulheres deixassem de ver problemas em eleger um presidente negro, em ter um chefe negro ou em ver seus filhos se casarem com negros.
Confirmada ou não a existência e consolidação desse novo tipo de sociedade, é fato que a eleição de Obama forçou o Brasil a olhar para a sua própria divisão racial. Inevitavelmente, surgiram na imprensa, entrevistas e reportagens que falavam sobre o nosso racismo e sobre como o país estaria a anos de distância de eleger um presidente negro.
Paralelamente a essa discussão, na semana em que se comemorou o dia da Consciência Negra, o instituto Datafolha divulgou uma pesquisa que media o racismo brasileiro. Essa pesquisa, quando comparada a uma outra que abordava o mesmo assunto, também realizada pelo Datafolha em 1995, confirmou que o racismo perdeu força no país.
Segundo o instituto, atualmente 50% dos brasileiros se assumem pretos ou pardos, enquanto a parcela de população branca caiu de 50% para 37%, de 1995 a 2008. Essa diferença indica que pessoas que antes se consideravam brancas deixaram de se classificar assim. Também caiu de 22% para 16% agora, o número de pessoas que dizem já terem sido discriminadas por causa de sua cor. Hoje há também uma maior presença de pretos e pardos no ensino superior. Em 2005, eles eram 18% dos estudantes, enquanto hoje são 31%.
Mas apesar disso, junto aos dados animadores revelados pela pesquisa, ainda existem velho preconceitos intrínsecos na nossa sociedade. Ao serem perguntadas se eram racistas, apenas 3% das pessoas entrevistadas responderam que sim. No entanto, para 91% dessas mesmas pessoas, os brancos têm preconceito contra os negros, o que pode indicar que a maioria das pessoas não se considera racista, mas considera que aqueles ao seu redor são. Ou pior, esses dados podem indicar a presença de um racismo mais velado.
Outro fator preocupante são os problemas enfrentados pela população negra com a discriminação no trabalho ou ao procurarem emprego. Segundo a pesquisa, uma mulher negra recebe 56% do salário de um homem branco. Já um homem negro recebe 62% do salário de um homem branco. E quando se fala em educação, a diferença de oportunidades também é evidente. Apesar de a diferença da média de estudo de pretos e pardos para brancos ter caído de 2,1 anos em 1995 para 1,8 anos agora, ainda assim a média atual de 6,3 anos de estudo de pretos e pardos é menor do que os 6,4 anos de brancos em 1995.
Essa pesquisa do Datafolha revela que o Brasil não deixou de ser um país racista, mas com certeza o preconceito diminuiu. Hoje, devido a uma popularização do discurso politicamente correto, há uma consciência de que o racismo é um valor negativo.
Mas, voltando a comparar o nosso país com Obama e os EUA, é fato que o fenômeno ocorrido lá dificilmente se repetiria no Brasil em um curto prazo. O maior motivo pra essa constatação, está no fato de que os brasileiros não desenvolveram tantas políticas e ações afirmativas que combatam de fato o racismo quanto os americanos. Um exemplo de política americana que foi eficaz ao resolver o problema é a Lei dos Direitos Civis, de 1964, que assegurou a igualdade de oportunidades aos negros. Essa lei nada mais fez que transformar, em pouco mais de 40 anos, os EUA de um país que proibia que negros e brancos freqüentassem os mesmos ambientes para uma nação comandada por um homem negro.
Dessa comparação entre o racismo nos EUA e no Brasil, fica a comprovação de que a segregação apoiada pelo Estado, como nos EUA do século passado, foi relativamente fácil de combater, já que era uma injustiça evidente. Difícil mesmo é contestar o que ocorre no Brasil, em que a discriminação é sutil e discreta. Em que as pessoas não se assumem racistas, mas têm a total consciência de que ainda vivem em uma sociedade onde determinadas regras ainda são ditadas pela cor da pele.



Um comentário:

Anônimo disse...

Um país como o Brasil ainda ter preconceito de cor de pele é muita burrice! Esses 3% que se declaram racistas não sabem o que é viver em sociedade. Devem viver numa bolha só pra eles.

Marco Damaceno